
A MARCHA É LINDA!
Em Lisboa, o mês de junho é sinónimo de FESTAS DE LISBOA, um momento único que envolve a população e as comunidades dos vários bairros alfacinhas e que anualmente atrai muitos milhares de pessoas. Por estes dias, as ruas enchem-se de cor e alegria com arraiais e bailaricos que convidam famílias, amigos, visitantes nacionais e turistas a participarem, entusiasticamente, nas sardinhadas, exibindo um arco e balão ou desfrutando do encanto e aroma de um manjerico com uma quadra para celebrar os Santos Populares.
A noite de Santo António, a mais longa e animada de Lisboa, é assim, um dos momentos mais esperados, uma tradição que junta os bairros típicos da cidade que exibem as suas marchas num concurso pela melhor e mais original.
As MARCHAS POPULARES DE LISBOA sempre proporcionaram uma nova vida à cidade, que espera um ano inteiro para ver os trajes mais exuberantes, o cavalinho mais animado, os cânticos mais originais, inspirados num costume ou caraterística de cada bairro, criando assim um ambiente com cor, brilho, alegria e emoção.
Mas, afinal, como surgiram as Marchas Populares?
Se atualmente a capital é vista como uma cidade de oportunidades, o mesmo acontecia no início do século XX. Pessoas, dos vários pontos do país, juntavam-se nos vários bairros lisboetas e nasciam pequenos grupos que tinham um objetivo comum: a diversão.
Os primeiros registos falam das marchas ao filambó, uma adaptação das francesas ‘marches au flambeaux’, em que os grupos criavam cantigas para competir uns com os outros e deslocavam-se com tochas pelas ruas da cidade. Mas foi em 1932 que o chamado ‘pai das marchas populares’, José Leitão de Barros, com o objetivo de chamar a atenção dos lisboetas e reanimar o Parque Mayer, anunciou o primeiro concurso de marchas populares.
Alto da Pina, Bairro Alto e Campo de Ourique foram os primeiros ranchos, como eram chamados, que participaram numa produção a cargo do Parque Mayer e, apesar de faltar o sotaque alfacinha como tema principal, a competição estava presente – Campo de Ourique foi o vencedor da primeira edição e levava trajes minhotos.
Mas Leitão de Barros queria mais: o objetivo era aumentar o público e tornar as marchas cada vez mais lisboetas. Por isso, o ‘criador’ percorreu as coletividades de forma a descobrir as suas particularidades.
A partir dos anos 50, o prestígio associado às marchas aumentou, uma vez que começaram a ser assistidas por dirigentes do Estado, mas também apadrinhadas por figuras públicas e também pelo aparecimento dos carros alegóricos e das mascotes.
O declínio das marchas populares começou nos anos 70, ou seja, após o 25 de Abril, estas comemorações chegaram mesmo a ser extintas por serem associadas ao Estado Novo. Nos anos 80, voltaram ‘em força’ e hoje continuam a ser um símbolo dos Santos Populares.
E quando estava aberta a época da sardinha e do manjerico, os gritos de “A MARCHA É LINDA” soavam com uma alegria esfusiante.
Mais do que o bairrismo, as MARCHAS POPULARES DE LISBOA são um evento que contribui para a evocação das tradições e festas tão genuínamente populares e para a preservação do património histórico e cultural da cidade.